sábado, 11 de novembro de 2017

Branquitudefobia

Os inúmeros relatos de um pessoal dizendo sofrer preconceito por ser branco me comoveu, então vamos falar um pouquinho sobre racismo? Sim, isso que brancos ultimamente têm dito sofrer no Brasil.
Beleza. O argumento central dos defensores da existência do ~~racismo reverso~~ é que tá no dicionário que qualquer raça pode ser vítima dessa opressão. Ok. Ao pé da letra a definição é essa. Porém, o racismo, histórica e geograficamente falando, é contextual. Ainda assim, os contextos de racismo institucionalizado contra brancos no Brasil são praticamente inexistentes.
Falei em racismo institucional, né? Isso é quando o racismo se torna a base de uma sociedade, o que causa, principalmente, desigualdade social.
No Brasil, a hierarquização social baseada na raça é pautada em MAIS DE 300 ANOS de escravidão/tráfico de escravizados negros.
"Mas branco também já foi escravo, na idade média e tal". Aqui precisamos diferenciar uma sociedade com escravos de uma sociedade escravista.
Nunca sociedade COM ESCRAVOS, o trabalho escravo é somente um de seus atributos sociais, é a chamada "escravidão acessório". A escravidão acessório aparece no caso dos negros na colonização da América Espanhola e com brancos - mas não por serem brancos - na idade média, por exemplo. Já numa SOCIEDADE ESCRAVISTA, toda a organização econômica e social está baseada na escravidão. Foi o que aconteceu por mais de 300 anos no Brasil.
As consequências dos três séculos de escravidão sistemática do povo negro são, principalmente, a desigualdade econômica, marginalização social/política, etc.
Então, quando acaba a escravidão isso acaba também, certo? ERRADO. O que sobra para o pós-abolição é a substituição dos espaços de sociabilidade e dos meios de coerção. O racismo institucional, além de tentar excluir o negro da sociedade, faz com que os quilombos se tornem favelas e os capitães do mato policiais.
Como disse ali, a escravidão e o tráfico de escravos perduraram por 300 anos. Eles foram extintos há menos de 150 anos. AINDA ESTAMOS NO PÓS-ABOLIÇÃO.
A televisão, o governo, as faculdades, as grandes empresas e a maioria dos espaços de privilégio ainda são brancos.
As favelas, as cadeias e as maiores vítimas de assassinato por parte do estado ainda são negras.
Por isso e por mais uns outros motivos que não cabem aqui é que absolutamente NUNCA um branco pode falar que sofre racismo no Brasil.

domingo, 30 de julho de 2017

A Mangueira, a democracia racial e sua contestação



O lançamento do livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, em 1933, marca a introdução do ideal da democracia racial na sociedade brasileira. Segundo este pensamento, o Brasil seria o "paraíso das raças", onde as três etnias viviam em harmonia e o racismo era coisa extinta instantaneamente no ato da assinatura da Lei Áurea de 1888. Tal discurso caiu feito luva na mão da elite branca dirigente do agitado país, afinal negar a existência do racismo era o meio mais viável de disfarçá-lo, mesmo quando ele se fazia presente até nas leis - como, por exemplo, na restrição legislativa da imigração africana e asiática ante o incentivo a imigração europeia na Primeira República.

 Com o incentivo do aparato do governo e das mídias dominantes, a ideia da igualdade racial se enraizou na sociedade brasileira de forma que, até mais da primeira metade do século XX, quem vislumbrava argumentar que o Brasil era um país racista era reprimido, sendo ignorada para tanto toda a marginalização evidente e imposta desde abolição.

 Como parte característica da formação da sociedade, o Carnaval não ficaria de fora dessa idealização. No ano de 1962, a Estação Primeira de Mangueira - primeira campeã do Carnaval do Rio de Janeiro e, junto com a Portela, a maior escola de samba da época - com seus milhares de componentes, em sua grande maioria negros e pobres, sai na Avenida Rio Branco gritando a plenos pulmões a democracia racial através do samba-enredo "Casa Grande e Senzala", que não poderia fazer maior referência ao livro de Freyre.

"Pretos escravos e senhores
Pelo mesmo ideal irmanados
A desbravar
Os vastos rincões
Não conquistados
Procurando evoluir
Para unidos conseguir
A sua emancipação"

O trecho denota uma suposta "irmandade ideológica" entre escravos e senhores objetivando a emancipação consequente da abolição da escravatura. Contudo, essa visão benevolente do processo ignora o contexto internacional de desintegração do cruel sistema escravista mundial (o Brasil foi o último país da América do Sul a decretar a abolição), o embate entre a resistência escrava e o já organizado movimento negro.

"Louvor

A este povo varonil
Que ajudou a construir
A riqueza do nosso brasil"

Já nesse trecho do samba é reconhecido um espaço ao negro na construção da riqueza nacional. Mas, segundo o ideal da democracia racial, o lugar dos negros nessa obra de nacionalidade era o da força bruta, do trabalho braçal, enquanto o branco se ocupava em pensar a nação. Essa visão naturalizava a divisão racial do trabalho e legitimava a elite branca governando o país. A produção historiográfica adotou oficialmente esse discurso e essa perspectiva conveniente e distorcida foi consagrada também academicamente.

Fazia-se necessária então uma revisão social e acadêmica e a partir da metade do século XX surgem grandes críticas à democracia racial. Pesquisadores como Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso (SIC) contestam essa dissimulação do escravismo e do racismo brasileiro, que só o fazia crescer. Entretanto, essa nova perspectiva, ao retratar o escravo herói, acaba por cair no extremo oposto da visão benevolente. O negro ainda era uma coisa. O romantismo ainda estava nas lentes de análise.

Foi preciso então uma revisão da revisão, a qual surgiu na década de 1980, principalmente com os trabalhos Robert Slenes e Sidney Challoub, que, ao abordar o escravismo e o pós-abolição, trataram de descoisificar o escravo ou liberto. O negro agora era visto enquanto humano em suas relações sociais no sistema escravista e no pós-abolição.

Novamente, o samba e o carnaval-tão particularmente negros e populares- não perderiam o trem que atropelou o romantismo. Em 1988 - um carnaval especial devido aos 100 anos da instituição da Lei Áurea - a de novo e sempre pioneira e do povo Estação Primeira de Mangueira vai à Marquês de Sapucaí vociferando através do eterno Jamelão o negro e sua luta, cantando, apontando e questionando com as milhares de gargantas da agremiação carnavalesca mais popular do mundo a participação do negro na construção do Brasil enquanto nação e as consequências de um processo de abolição excludente. Para essa manifestação popular o samba-enredo foi o magnífico "Cem anos de Liberdade - Realidade ou Ilusão?", do qual um só trecho resume todo a contestação social à História tradicional e oficial.

"...Será... 
Que a lei áurea tão sonhada 
Há tanto tempo assinada 
Não foi o fim da escravidão 
Hoje dentro da realidade 
Onde está a liberdade 
Onde está que ninguém viu 
Moço 
Não se esqueça que o negro também construiu 
As riquezas do nosso brasil" 

Nesse contexto, nota-se que o Carnaval serviu como uma ponte entre a academia e o povo. Levando ou trazendo demandas de um espaço para o outro e assim diminuindo a enorme distância instituída entre eles.

Por destino, naquele especialíssimo carnaval a Verde e Rosa competira e fora derrotada por meio ponto pela Vila Isabel com o seu também negro e histórico "Kizomba, Festa da Raça". Mas o segundo lugar não apagou o marco: Mangueira fez história. O carnaval é história. Uma aula de história na avenida







quarta-feira, 8 de março de 2017

Raios de Emancipação

Difícil iniciar um texto sobre algo que começou já no raiar de seus dias e por todos eles o acompanhou.

Por 21 anos te enganaram
Por 21 anos te fizeram acreditar que, sendo mulher e preta, brilho nao teria
Por 21 anos tentaram em você implantar um ódio próprio em todos os aspectos

Essa violência a mão que cá lhe escreve não é capaz de dimensionar, mas a percebe no cada vez mais diário convívio em sua presença

Esta mão sempre brinca lhe dizendo que a pegou no colo no mundo e viu crescer diz isso baseada na luz que sente de Você

A luz que tentaram sabotar
A luz que, não satisfeita em iluminar a existência própria, preenche os breus do mundo de quem a cerca
A luz que nunca foi apagada
Se trata de uma claridade tão colossal que assusta até o corpo que a emana

Hoje esta mão percebe que a Estrela vem se dando conta de sua dimensão.
Do tanto de amor que orbita seu campo gravitacional
Jogando pra longe os meteoros que o tempo todo tentaram lhe diminuir
Isso chamam de Emancipação

A mão que escreve, como todo o resto do mundo ilumidado pelo Ser, é pega de surpresa por cada clarão cada vez mais intensos revelados desse movimento libertador

E a mão chora
Chora o encanto que inunda a nascente de sua própria existência

Você é meu Sol, vida
A essência do Amor se chama Nine


Te amo, minha Preta