Agoniado
Esse deveria ser o nome disso aqui que as pessoas chamam blog.
É o que fala por você
a pura e simples agonia
Isso agrava em dias (semanas, mês) desleais.
Pra você, ler sobre teoria das ideias e da substância não condiz.
Platão e Aristóteles em seus respectivos tempos não tinham preocupações como estar longe e perto ao mesmo tempo.
A fugacidade é contemporânea e você é mal-passado
amassado
ultrapassado.
Você transborda no vácuo
e se lambuza com o próprio recheio.
Exagerado
Você quer a mão
e um pouquinho do braço
Quer atenção
mas não acorda
não realiza que todos têm suas próprias razões
e que ninguém tá aqui pra lhe assistir
mesmo que minimamente
Escrevo isso sem ligar para a métrica e rima
dessa vez a desculpa é que são só alertas
Nesses dias prefira a varanda
a música
a janela
o vento
os cachorros
a vida
Você só precisa ocupar sua mente
ah
tenta também ser mais introspectivo
nota que entender totalmente quem te cerca não é tão importante
quando você não se aguenta dentro de si
e transborda
de novo
é o ciclo.
sábado, 24 de outubro de 2015
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
Permanências
Legado. Essa palavra, tão utilizada e deturpada em contextos de obras e eventos megalomaníacos pra inglês ver, é genuinamente humana e cá tenho o mais significativo dos exemplos
Visitou os campos santos no 18/08, entre a tarde e a noite, Dona Mirian.
60 anos, estudante de Educação do Campo, moradora do alojamento da Rural e, principalmente, militante.
Nos conhecemos no dia 26/06, no ato contra o ajuste fiscal/corte de verbas.
Na pouca conversa, contou que era anarquista militante desde a década de 70, tempos de tormenta.
Foi rápido, mas tempo suficiente para admirar aquela mulher, já velha nos anos, que nos acompanhava e guiava ao Centro.
Mantem-se a certeza de que era uma pessoa sensacional e de cá imagino suas grandes histórias da vida, que, mesmo que agora sejam possíveis apenas no meu imaginário, me inspiram para me mover, porque, como ela, eu creio que só a luta muda a vida.
Voe em paz, Dona Mirian.
Visitou os campos santos no 18/08, entre a tarde e a noite, Dona Mirian.
60 anos, estudante de Educação do Campo, moradora do alojamento da Rural e, principalmente, militante.
Nos conhecemos no dia 26/06, no ato contra o ajuste fiscal/corte de verbas.
Na pouca conversa, contou que era anarquista militante desde a década de 70, tempos de tormenta.
Foi rápido, mas tempo suficiente para admirar aquela mulher, já velha nos anos, que nos acompanhava e guiava ao Centro.
Mantem-se a certeza de que era uma pessoa sensacional e de cá imagino suas grandes histórias da vida, que, mesmo que agora sejam possíveis apenas no meu imaginário, me inspiram para me mover, porque, como ela, eu creio que só a luta muda a vida.
Voe em paz, Dona Mirian.
sábado, 18 de julho de 2015
Ode ao Pensador
Devo eterna gratidão ao Gabriel o Pensador.
O ano era 2009 e o meu era 13.
Animado com o novo videogame, perdia horas incansáveis dos dias naquele jogo pirata.
Pirata não, prefiro usar o termo brasukado.
Na introdução do jogo, tocava, dentre outras músicas que as pessoas supõem servir pra adrenalina, Brazuca, do Pensador.
A música contava a vida de Brazuca, um menino pobre da Favela que se tornou jogador de futebol, e de seu irmão, Zé Batalha, assassinado ao ser confundindo com um bandido.
De início eu pulava, ia direto pro jogo. Só queria marcar gols com o Fernando Torres e cada segundo perdido era menos uma comemoração. Quem era Brazuca?
Aos poucos fui percebendo a canção.
Primeiro, o ritmo encantou, depois a letra foi além disso.
É curioso como a nossa percepção da transformação é sempre póstuma.
Sentado na frente da minha tv de 14 polegadas, percebi que a estória cantada era na verdade uma história e foi aí que tudo aconteceu.
Quis chorar, quis espernear, quis sair na rua procurando algum Brazuca pra acolher, mas o que concretizei na prática foi mais do que isso: eu mudei.
Ser classe média baixa num bairro pobre é reflexivo. Ter um videogame quando na sua rua não se tem água é apavorante.
De lá pra cá, deixei videogame, ignorei a divisão por classes, vivo mais meu bairro, caminho, vejo a vida e o lado bom que é abundante nele.
Os Brazucas aqui ainda existem, minha luta é pela extinção da caricatura-não-exagerada dos Zés Batalha, produzidos em escala silenciosamente escandalosa e escandalosamente silenciada.
O Gabriel não sabe, mas sua canção do fim da década de 90 regou a já plantada problemática na mente de um menino avulso no século 21.
O ano era 2009 e o meu era 13.
Animado com o novo videogame, perdia horas incansáveis dos dias naquele jogo pirata.
Pirata não, prefiro usar o termo brasukado.
Na introdução do jogo, tocava, dentre outras músicas que as pessoas supõem servir pra adrenalina, Brazuca, do Pensador.
A música contava a vida de Brazuca, um menino pobre da Favela que se tornou jogador de futebol, e de seu irmão, Zé Batalha, assassinado ao ser confundindo com um bandido.
De início eu pulava, ia direto pro jogo. Só queria marcar gols com o Fernando Torres e cada segundo perdido era menos uma comemoração. Quem era Brazuca?
Aos poucos fui percebendo a canção.
Primeiro, o ritmo encantou, depois a letra foi além disso.
É curioso como a nossa percepção da transformação é sempre póstuma.
Sentado na frente da minha tv de 14 polegadas, percebi que a estória cantada era na verdade uma história e foi aí que tudo aconteceu.
Quis chorar, quis espernear, quis sair na rua procurando algum Brazuca pra acolher, mas o que concretizei na prática foi mais do que isso: eu mudei.
Ser classe média baixa num bairro pobre é reflexivo. Ter um videogame quando na sua rua não se tem água é apavorante.
De lá pra cá, deixei videogame, ignorei a divisão por classes, vivo mais meu bairro, caminho, vejo a vida e o lado bom que é abundante nele.
Os Brazucas aqui ainda existem, minha luta é pela extinção da caricatura-não-exagerada dos Zés Batalha, produzidos em escala silenciosamente escandalosa e escandalosamente silenciada.
O Gabriel não sabe, mas sua canção do fim da década de 90 regou a já plantada problemática na mente de um menino avulso no século 21.
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Ode ao burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
_ Más nós morremos de fome!
Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
_ Más nós morremos de fome!
Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Paulicéia Desvairada(1922), Mario de Andrade.
Flor do asfalto
Ele nasceu e cresceu ali na favela.
Vendo o de sempre, o que o branco não vê -ou ignora-.
Conheceu uma menina, a quem chamou Espatódea.
Ela foi, mas não passou.
Ele é grato e sabe: sem ela seria difícil evitar o determinismo.
Ele trabalha, passou pra faculdade e, principal, tem uma banda.
Canta verdades pra adoçar o amargo das vidas.
É molde pro seu meio.
Negro, pobre e favelado: ele agora é a Espatódea para os seus.
Ele é a contramão.
Vendo o de sempre, o que o branco não vê -ou ignora-.
Conheceu uma menina, a quem chamou Espatódea.
Ela foi, mas não passou.
Ele é grato e sabe: sem ela seria difícil evitar o determinismo.
Ele trabalha, passou pra faculdade e, principal, tem uma banda.
Canta verdades pra adoçar o amargo das vidas.
É molde pro seu meio.
Negro, pobre e favelado: ele agora é a Espatódea para os seus.
Ele é a contramão.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Ode ao desacordo
Sempre rejeitei uniformidades físicas ou mentais.
E quanto a isso sou infinitamente grato aos que plantaram a semente do debate em mim, principalmente minha Mãe.
Ela, mesmo no alto de toda sua imutação, é um das poucas pessoas que concorda em discordar e tem paciência comigo, mesmo que até certo ponto.
Hoje foi um dia. Debatíamos sobre legalização da maconha e do aborto, ela contrária aos dois, eu favorável.
Gritamos, bufamos, ironizamos, mas, acima de tudo, nos respeitamos.
Qualquer outra pessoa de fora dessa relação estranha quando vê acha que é briga, mas não.
Ela sabe que nunca brigaria com ela.
Como ninguém é máquina de ponderar, chega uma hora que a dor na cabeça fala mais alto que qualquer palavra e cada um vai pro seu canto, que sempre terminam se cruzando.
Eu não mudei de opinião e muito menos ela, mas só nós sabemos o quanto isso é importante pra cada um. Essa necessidade de argumentar é genética, mas não aleatória.
Ela me deu as costas com raiva e nem olhou pra trás. 5 minutos depois, veio até mim, convidando pra ver um filme que segundo a própria seria "bom demais pra se ver sozinha".
Essa é a forma dela se retratar por qualquer exagero, mesmo quando não o há.
Minha mãe, como ninguém, me faz sentir acolhido. Mesmo ela sendo 8 e eu 800.
E quanto a isso sou infinitamente grato aos que plantaram a semente do debate em mim, principalmente minha Mãe.
Ela, mesmo no alto de toda sua imutação, é um das poucas pessoas que concorda em discordar e tem paciência comigo, mesmo que até certo ponto.
Hoje foi um dia. Debatíamos sobre legalização da maconha e do aborto, ela contrária aos dois, eu favorável.
Gritamos, bufamos, ironizamos, mas, acima de tudo, nos respeitamos.
Qualquer outra pessoa de fora dessa relação estranha quando vê acha que é briga, mas não.
Ela sabe que nunca brigaria com ela.
Como ninguém é máquina de ponderar, chega uma hora que a dor na cabeça fala mais alto que qualquer palavra e cada um vai pro seu canto, que sempre terminam se cruzando.
Eu não mudei de opinião e muito menos ela, mas só nós sabemos o quanto isso é importante pra cada um. Essa necessidade de argumentar é genética, mas não aleatória.
Ela me deu as costas com raiva e nem olhou pra trás. 5 minutos depois, veio até mim, convidando pra ver um filme que segundo a própria seria "bom demais pra se ver sozinha".
Essa é a forma dela se retratar por qualquer exagero, mesmo quando não o há.
Minha mãe, como ninguém, me faz sentir acolhido. Mesmo ela sendo 8 e eu 800.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Amai, rapazes!
Era tão perto, que antes de três minutos me achei em casa. Parei no corredor, a tomar fôlego; buscava esquecer o defunto, pálido e disforme, e o mais que não disse para não dar a estas páginas um aspecto repugnante, mas podes imaginá-lo. Tudo arredei da vista, em poucos segundos; bastou-me pensar na outra casa, e mais na vida e na cara fresca e lépida de Capitu...Amai, rapazes! e, principalmente, amai moças lindas e graciosas; elas dão remédio ao mal, aroma ao infecto, trocam a morte pela vida...Amai, rapazes!
Machado de Assis, Dom Casmurro (1899).
Assinar:
Postagens (Atom)